Tentei passar a noite sozinha, mas não consigo controlar minha mente. Eu só estou pensando em você.
— Ariana Grande
A tarde acalorada em Lewisville foi embora tão rápido quanto chegou e assim que as nuvens escuras tomaram conta do céu, começou a chover. Demetria estava na casa dos Williams e ainda tentava entender o que havia acontecido com a mãe de Jesse, ele não havia conseguido falar direito e chorou na maior parte do tempo. Mesmo preocupada, ela ficou ao lado dele lhe dando apoio e esperando pacientemente que ele se acalmasse. O pai dele ainda estava na oficina, mas garantiu por telefone que logo chegava e eles permaneceram na sala esperando por ele.— Ariana Grande
— AVC. — Jesse disse de repente e Demi olhou para ele confusa.
— O que disse?
— Minha mãe teve um AVC.
— Seu padrasto disse como ela está? — Ela perguntou preocupada.
— Ele também está muito abalado e não conseguiu me dizer direito, mas pelo que ouvi a situação não é boa. As chances dela ter sequelas são grandes e eu não consigo entender como isso pôde acontecer! Demi, minha mãe é uma mulher ativa e se alimenta de forma saudável, ela não deveria estar passando por isso.
— Fica calma, querido. — Ela disse suavemente e afagou-lhe as costas. — Sei que é difícil, mas você precisa pensar positivo e acreditar que ela irá ficar bem. O.k? Você se desesperar só vai te deixar ainda mais abalado. — Ele assentiu e suspirou.
— Eu sei que sim e agradeço por estar aqui me apoiando, mas não deixo de pensar que se estivesse lá isso não teria acontecido.
— É algo que acontece de repente e sem explicação, nenhum de nós poderia ter evitado.
— Eu quero muito ir vê-la e se possível passar um tempo com ela, mas preciso falar com o meu pai antes.
— Tenho certeza de que ele vai te dar o maior apoio.
— Obrigado. — Ele sorriu fraco para ela e Demi o abraçou de lado lhe dando um selinho.
— Vai dar tudo certo, o.k? Eu tenho certeza disso. — Jesse assentiu e eles permaneceram em silêncio por alguns instantes.
— Eu te liguei e nem sabia o que você estava fazendo.
— Estava tomando café com Joseph. — Jesse assentiu pensativo por alguns instantes, ele havia notado algo nesse mês que passou e resolveu analisar consigo mesmo. Joseph era uma presença constante na vida de Demi e ele nunca se importou, ela o considerava como irmão e até ai estava tudo bem. Mas ele não era bobo e pelas poucas vezes que se encontraram juntos, pegou alguns olhares e sorrisos, coisas que não passam despercebidas diante de alguém que olha a situação por fora! Ele tinha quase certeza que Joe era apaixonado por Demi e a questão para ele, era se ela tinha consciência disso ou se aquilo tudo era delírio por parte dele. Toda aquela história o deixava um pouco angustiado, pois se ele fosse ficar com sua mãe não teria uma data certa para voltar e isso podia levar meses, não era justo prender alguém em uma relação que é praticamente incerta! Ele gostava muito dela, muito mais do que já tinha gostado de qualquer outra mulher e por isso queria o melhor para ela.
— Ele gosta muito de você.
— Acho que sim. — Sorriu. — Somos família. — O modo como os olhos dela brilharam ao dizer aquilo... Será que ela ao menos sabia disso?
— Me desculpe se interrompi algo importante.
— Está tudo bem, eu vou remarcar com ele. — Jesse segurou-lhe uma das mãos, olhou para ela e sorriu fraco.
— O que foi? — Ela perguntou sorrindo também e ele suspirou.
— Eu quero guardar seu rosto assim na minha memória.
— Sei bem como conversas assim começam e terminam, Jesse. O que está pensando?
— O que vai acontecer com nós dois se eu ficar mais do que dias com minha mãe?
— Está falando de morar um tempo com ela? — Ele assentiu. — Eu vou sentir sua falta, mas podemos manter contato e nos encontrarmos algumas vezes.
— Você quer mesmo fazer isso? — Jesse beijou-lhe as costas da mão e Demi sentiu o coração apertar no peito. Ele queria terminar com ela?
— Jesse, você está terminando comigo?
— Não é isso, não entenda do jeito errado.
— E de que jeito eu deveria entender? — Ela perguntou sem deixar que o tom de voz se alterasse.
— Demi, eu não sei como dizer isso e acho que talvez você não vá acreditar em mim, mas acho que Joseph é apaixonado por você. — Demetria afastou-se dele perturbada demais com suas palavras e virou-se para encara-lo sentindo os olhos arderem por causa das lágrimas que de repente romperam por seus olhos sem aviso prévio.
— Você quer terminar comigo? Tudo bem, nós terminamos. Mas você não ter coragem para isso e envolver meu amigo nessa história toda é golpe baixo! Eu não esperava isso de você. — Ela pegou a bolsa e virou-se de costas caminhando rapidamente até a porta.
— Demi! Espera, eu não estou inventando nada disso. — Jesse foi atrás dela, mas Demi não parou e continuou andando. — Você precisa me escutar! — A porta foi aberta e logo ela atravessou o portão indo em direção a rua. — Demetria, por favor. — Ela parou e olhou para trás para encara-lo. A essa altura ele também tinha lágrimas nos olhos, mas tudo aquilo soava absurdo demais até mesmo para ele dizer! Mas o que incomodava não eram as palavras e sim o que estava acontecendo dentro dela depois de ouvir aquilo. — Não era minha intenção, de verdade, eu gosto muito de você e não brincaria com isso! Eu só quero que você veja o que está diante dos seus olhos.
— E como isso mudaria o que nós temos?
— Quando você fala dele sua pupila dilata, seus olhos brilham e eu vejo isso nele. As poucas vezes em que estivemos juntos, eu vi... eu vi que Joe te olha desse mesmo jeito! Eu não quero te prender em uma relação incerta, quando tem alguém que talvez seja a pessoa certa pra você.
— Eu não entendo o motivo de você continuar insistindo nessa história toda.
— Demi, eu juro pela minha mãe que não estou mentido e você sabe... bem no fundo do seu coração, eu tenho certeza de que você sabe!
— Vá embora dessa cidade e nunca mais me procure novamente! — Ela olhou uma última vez para ele e foi embora caminhando sem se importar com o temporal. Jesse permaneceu na varanda de casa arrasado e se perguntando se falar sobre aquilo foi ou não uma boa decisão! Mas não tinha como voltar atrás e agora ele teria que conviver com aquilo. Jesse apenas torcia para que ela descobrisse e fosse capaz de perdoa-lo um dia por ter tentado lhe dizer o que ele acreditava ser verdade.
Quando Demetria foi embora, ela queria se afastar de Jesse e de todas as coisas que ele insinuou, mas foi tudo em vão! Ela estava tão irritada, magoada e com raiva que durante um tempo o fato de estar molhada não lhe afetou em nada. Mas a tempestade se tornou mais forte e consequentemente as rajadas de vento também! Logo Demi estava tremendo de frio e procurando por qualquer lugar onde pudesse se abrigar, não tinha como ir mais longe estando naquele estado. Para sua sorte havia um ponto de ônibus por ali, não era grande coisa, mas pelo menos tinha um lugar onde ela poderia sentar e tentar ligar para alguma amiga vir em seu socorro! O celular felizmente estava seco dentro da bolsa, mas não havia sinal naquele local e novamente ela se viu em uma situação difícil. A frustração foi tanta que Demetria gritou e chutou uma das colunas de sustentação do ponto, logo as lágrimas voltaram e ela sentou-se esgotada demais para fazer qualquer coisa. Um carro parou em frente ao ponto e Demi ergueu a cabeça sentindo seus sentidos entrarem em alerta máximo! Ela era uma mulher sozinha em uma região deserta e cercada de mato por todos os lados, não tinha como não pensar no pior. O vidro foi abaixado e naquele momento uma onda de alivio veio ao ver um rosto feminino e conhecido, mas logo depois ela sentiu uma pontada de insegurança. Zara olhava para ela tendo um misto de espanto e surpresa nos olhos, Demi era uma das últimas pessoas que ela esperava encontrar naquela noite! Mas que tipo de ser humano negaria ajuda para alguém no estado dela? Engolindo um pouquinho de seu orgulho, Zara umedeceu os lábios e disse:
— Entra, eu te dou uma carona. — Dessa vez foi Demi que ficou surpresa, tanto que ela demorou alguns instantes para se levantar e entrar no veículo.
— Obrigada. — Ela agradeceu e sua voz saiu tremida assim como ela tremia! Zara deu partida no veículo e deu olha olhada rápida para Demi que estava encolhida no banco do passageiro ao seu lado.
— Você é louca? Sabia que podia ter uma hipotermia ou coisa do tipo? Está muito frio! Tá querendo morrer?! — Zara disparou a falar e Demi não sabia distinguir se era preocupação ou raiva, talvez fosse um pouco dos dois.
— Eu só queria ir para casa.
— Pega meu casaco. — Zara esticou um dos braços e segurou o volante com o outro. — Não é um pedido. Eu não vou te deixar morrer no meu carro!
— Eu não vou morrer.
— Me desculpe, mas não foi bem assim que aconteceu anos atrás. — Demi suspirou e pegou o casaco quentinho da "amiga".
— Você quer mesmo ter essa conversa aqui?
— Eu nem sabia que queria essa conversa. — Zara apertou o volante um pouco nervosa e tentou focar na estrada. — Você vai embora comigo, o.k? — Ela disse após alguns instantes em silêncio. — Podemos conversar melhor no meu apartamento. — Demi pensou em recusar, mas talvez aquela fosse sua única oportunidade de ter a amiga de volta e ela apenas assentiu em resposta.
O caminho até o apartamento foi silencioso, tanto que Demetria cochilou tendo a cabeça encostada no vidro e só acordou quando o carro parou de repente! Elas estavam no estacionamento e Zara já estava ao seu lado abrindo a porta para que ela descesse. As duas caminharam juntas até o elevador, a loira carregava algumas sacolas do supermercado com uma mão e balançava as chaves na outra. Demi não estava sentindo mais tanto frio, mas suas roupas ainda estavam molhadas e ela torcia pelo menos para que Zara pudesse coloca-las na secadora. Elas pegaram o elevador, subiram em silêncio e desceram no vigésimo andar. A porta foi destrancada rapidamente e Zara cedeu espaço que ela adentrasse primeiro, era um lugar pequeno e ao mesmo tempo aconchegante! Demi retirou os sapatos, pendurou o casaco e deu alguns passos meio perdida pelo corredor. Zara indicou o cômodo da frente e ela a seguiu rapidamente, as sacolas de compra foram abandonadas no balcão da cozinha e mais alguns passos levaram as duas até o banheiro.
— Tire suas roupas molhadas e tome um banho quente, o.k? Você precisa de algo para comer ou vai acabar pegando um resfriado.
— Zara, eu...
— Primeiro você toma banho e depois nós conversamos. — Ela disse séria. — Não precisa se preocupar com suas roupas, acho que vestimos o mesmo tamanho e posso te emprestar alguma coisa. — Disse analisando-a por alguns instantes. — Meu quarto fica bem ali. Está vendo? — Apontou. — Quando terminar é só ir até lá e se vestir.
— Obrigada. — Zara assentiu e saiu fechando a porta.
Demetria ficou na água quente tempo suficiente para seu corpo ficar aquecido e relaxado por finalmente estar em um lugar seguro. Demi lavou os cabelos por último e torceu para que Zara não achasse que estava abusando de sua boa vontade! Ela finalizou o banho, enrolou uma toalha no corpo e outra no cabelo; por último secou os pés descalços no tapetinho antes de sair do banheiro e adentrar no quarto. A julgar pela rápida olhada no apartamento, aquele era definitivamente o cômodo mais bem decorado de todos! As cores vibrantes, a decoração e a organização dos móveis... tudo tinha a cara de Zara. Demi aproximou-se de um painel e observou com certa curiosidade as fotos que estavam penduradas ali. Havia fotos da família, viagens e principalmente dos amigos! Uma em especial prendeu a atenção dela, todos estavam reunidos ao redor de uma fogueira e sorriam alegremente, provavelmente estavam acampando. Eles tinham fotos juntos em várias ocasiões especiais e Demetria afastou-se sentindo o coração apertar por ter perdido momentos assim com eles. Ela sabia que podia ter novas lembranças ao lado deles, mas não seria a mesma coisa! Balançando a cabeça, Demi pegou o conjunto de moletom que Zara havia separado para ela e vestiu sem perder mais nenhum minuto. O conjunto estava sobrando em alguns lugares e provavelmente se dava ao fato da loira ser mais alta que ela! Isso a fez rir baixo consigo mesma. Após pentear os cabelos e calçar um par de chinelos que estava no cantinho do quarto, Demetria voltou ao banheiro para pendurar as toalhas e de lá foi ao encontro de Zara que estava na sala.
— Obrigada por ter me ajudado. — Disse após sentar-se no sofá.
— Não pense você que foi fácil. — Zara olhou para ela, os olhos claros estavam avermelhados por causa das lágrimas e Demi sentiu-se culpada por causar aquilo. — Afinal de contas, o que aconteceu com você? E não pergunto só de hoje, o.k?! — A loira se levantou um pouco inquieta e respirou fundo tentando conter sua vontade de disparar um monte de perguntas.
— Eu já contei essa história tantas vezes que nem sei por onde começar. — Demetria fechou os olhos, respirou fundo e escolheu cuidadosamente as palavras que usaria com ela. — O que aconteceu naquele dia e o motivo de ter ido embora nunca teve nada haver com vocês, o.k? Nenhum de vocês tem culpa. Na época eu tinha muitos problemas familiares e você sabe bem disso, nós conversamos e te falei que sonhava conhecer meu pai. Você se lembra? — Zara assentiu enquanto prestava atenção nela. — Eu consegui encontra-lo e não foi nada daquilo que imaginei. Ele tinha outra família e não aceitou bem minha presença lá, então ele me disse coisas horríveis e por último disse que me mataria se voltasse a procurá-lo. Eu não quero entrar em detalhes e tornar isso mais difícil do que é, mas me senti tão rejeitada naquele momento e para completar minha mãe brigou feio comigo nesse dia e nem me lembro o motivo! Durante toda minha vida ela foi assim, nunca precisou de motivos para me humilhar e nunca deveria ter sido assim, sabe? Eu não aceitava e não aceitei bem o fato deles não me amarem. Pensei: "Nem meus próprios pais me amam, quem dirá outra pessoa." — Demi fez uma pausa. — Eu me lembro daquele dia e me lembro de ouvir Joseph gritando por ajuda. Naquele momento entre estar ou não morrendo, percebi que ele me amava e que tinha tantas outras pessoas que me amavam! Infelizmente não tive chance de dizer que sentia muito, mamãe simplesmente me levou embora e perdi vocês. — Ela sentiu os olhos arderem por causa das lágrimas e suspirou, precisava de força para ir até o fim. — Sei que anos se passaram e que em algum momento conquistei minha independência. Também sei que poderia ter entrado em contado ou simplesmente voltado antes, mas tinha vergonha demais e ainda me sentia culpada por causar tanta dor. Paul sempre dizia que devia voltar e que minha família estava aqui esperando por mim, mas fui medrosa demais. Ah, Zara... eu faria tudo diferente se pudesse! Quando Julie me ligou e me disse que Paul havia morrido, eu fiquei sem chão. Sem contar que havia acabado de descobrir que meu "noivo" era um golpista e que estava sendo enganada por dois anos, então processar tudo isso não foi fácil. Mas algo na morte de Paul me fez perceber que não podia mais adiar meu retorno ou poderia acabar perdendo mais alguém para sempre e não me perdoaria se isso acontecesse. — Zara sentou-se e passou uma das mãos pelos cabelos enquanto absorvia as palavras de Demetria.
— Eu me sinto péssima por pensar coisas ruins de você. — Ela confessou após alguns instantes de silêncio. — Você foi embora e teve problemas ainda maiores, mas mesmo assim está aqui.
— Desistir nunca deve ser uma opção.
— E hoje, o que aconteceu?
— Jesse terminou comigo.
— Você e Jesse estavam namorando? — Zara arregalou os olhos.
— Você o conhece?
— Eu tenho um blog de moda e ele tira minhas fotos.
— Eu diria que o mundo é pequeno, mas nesse caso é a cidade mesmo. — Demi soltou uma risadinha baixa e suspirou.
— O que aconteceu entre vocês?
— A mãe dele adoeceu e ele vai passar um tempo com ela, então preferiu terminar comigo.
— Era da casa dele que estava indo embora quando te encontrei? — Ela assentiu.
— Ele me disse umas coisas... eu prefiro não entrar em detalhes, mas achei desnecessário. — Demetria suspirou. — Parece até que ele inventou algo para justificar tudo e foi horrível!
— Não sei o que ele te disse, mas você não pode deixar isso te perturbar.
— Eu queria que fosse simples assim. — Zara riu baixo e levantou-se indo sentar-se ao lado dela.
— Não vai ser e você ainda vai sofrer um pouco, mas o importante disso tudo é que você não vai precisar passar por isso sozinha. — Ela segurou uma das mãos de Demi e sorriu. Demetria não aguentou e acabou por abraça-la forte, ainda era difícil de acreditar que elas estavam ali juntas!
— Obrigada, Zara.
— Some de novo que eu vou atrás de você e te dou uns tapas! — Demi riu e quando Zara partiu o abraço percebeu que ela ria também.
— Isso não vai acontecer de novo. — Ela sorriu. — Estou em casa com a minha família e não quero mais nada além disso.
Depois de conversarem mais um pouco, Zara serviu a sopa que havia preparado e ela jantou com Demi na sala assistindo um filme qualquer na televisão. A loira refletia sobre o que elas conversaram e sentiu que Demi não havia contado tudo que havia acontecido com Jesse, mas estava tudo bem. Estava sendo difícil pra ela e Zara entendia, talvez ela se sentisse mais confortável em outro momento para falar e ela estaria ali para ouvir. Afinal, é isso que amigas fazem! "Amigas" ela sorriu consigo mesma. Quando o filme terminou, as duas foram até a cozinha e Demetria insistiu em lavar a louça que ali estava. Zara ajeitou o quarto de hospedes e assim que Demi apareceu, ele já estava prontinho para ela!
— Eu usei uma escova de dentes nova que estava lá e espero que não se importe.
— Coloquei lá pra você usar. — Zara riu baixo e olhou em volta. — Acho que não esqueci de nada, mas qualquer coisa é só me pedir. O.k?
— O.k, obrigada. — Demi sorriu.
— Boa noite.
— Boa noite, Z. — A loira parou na porta e virou-se sorrindo antes de sair do quarto.
Demi deitou-se na cama e fechou os olhos para dormir, mas seus pensamentos simplesmente não deixavam! Tudo estava voltando novamente e gritando cada vez mais alto dentro de sua cabeça, ela não conseguia evitar e suspirou pesadamente virando-se de um lado para o outro. Nenhuma posição parecia boa ou confortável o suficiente, ela já estava ficando frustrada! Fechando novamente os olhos, Demetria tentou dormir na esperança de que seus pensamentos entendessem que era hora deles se aquietarem.
Demetria estava diante da porta do quarto de Joseph, mas ainda não havia criado coragem para bater e pedir permissão para entrar. Não que ela precisasse fazer isso, mas sentia-se tão estranha depois de beijá-lo sob o visco que não sabia mais se as coisas entre eles continuavam iguais! "Será que foi errado?" Pensou consigo mesma. "Mas foi bom e nenhum pouquinho estranho." Outro pensamento. "Droga, ele não disse nada! Será que ele achou esquisito?" Os pensamentos dela foram interrompidos pelo barulho da porta que foi aberta e Joe olhou surpreso para ela. Ele ainda estava um pouco abatido e confuso depois do desmaio, mas estava falando normalmente.
— Achei que não fosse aparecer. — Eles dormiam juntos praticamente todos os dias, tanto que havia se tornado um hábito! Dificilmente um dormia sem o outro e quando isso acontecia, era uma noite de sono incompleta.
— Não sabia se devia. — Demetria encarrou os próprios. Ele estava de pijama, mas ainda sim sem camisa e olhar para ele assim não parecia mais certo! Algo dentro dela parecia simplesmente ter sido desbloqueado.
— Deixa de besteira, eu já disse que não foi sua culpa e você precisa aceitar isso. O.k? — Ela assentiu. — Venha, eu quero que você fique. — Ele segurou-lhe uma das mãos. O toque quente contra sua mão fria lhe causou alguns arrepios, Demi suspirou e caminhou para dentro do quarto junto com ele.
— Você se lembra de alguma coisa? — Ela perguntou enquanto Joseph se deitava.
— Vagamente. — Demetria sentiu alivio seguido por uma pontada de decepção. — Eu fiz alguma besteira?
— Defina "fazer besteira". — Brincou puxando as cobertas e encarrando-o com uma das sobrancelhas arqueadas.
— Sei lá, eu te disse ou fiz algo que provavelmente não faria? — Ele parecia apreensivo pela resposta e isso intrigou Demi.
— O que você não diria ou faria comigo?
— Ei, não pode responder minha pergunta com outra pergunta.
— Eu posso fazer muitas coisas, Joe.
— Não comigo. — Brincou.
— Você é que pensa. — Ela lhe deu um empurrãozinho e ele retribuiu rindo.
— Sério, eu não fiz nada do qual me arrependeria?
— Não entendo o motivo de estar tão preocupado. — Demi sentou-se de repente na cama e ele fez o mesmo não entendendo o motivo dela estar agindo de forma tão estranha! Ela estava se irritando com aquelas perguntas. — Em algum momento você vai cometer erros e magoar alguém, então não deve ficar assim. O.k? E outra, eu não sou frágil desse jeito! Não vou me fazer em pedaços! Não por qualquer coisa e nem por qualquer um, você mais do que ninguém devia saber disso. — Joseph olhou para ela por alguns instantes, os olhos dele brilhavam na escuridão e aquela expressão enigmatica fez Demi suspirar. Ele era diferente de muitos garotos que havia conhecido e o modo protetor como cuidava dela era realmente adorável, mas havia momentos e momentos. Não queria ser tratada como uma criança!
— Somos amigos. Melhores amigos e acredite quando digo, nós temos peso um sobre o outro que ninguém mais entenderia. Nós podemos nos machucar mais do que qualquer outra pessoa! Por isso eu me preocupo, você é a pessoa que eu não quero perder por conta de qualquer bobagem.
— Joseph, você nunca vai me perder. — Demetria riu e o empurrou fazendo-o se deitar. Ela aninhou-se no peito dele sorrindo e relaxou sentindo o afago em seus cabelos, ali era seu lugar seguro! Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes e durante todo esse momento, Demi ouviu o coração de Joe bater cada vez mais acelerado.
— Eu te amo. — Ele disse baixinho, como quem conta um grande segredo!
— Eu também te amo. — Ela ergueu a cabeça para olha-lo uma última vez e viu que ele já olhava em sua direção. — O que foi? — Perguntou suavemente.
— Só queria olhar pra você mais uma vez antes de dormir.
— Seu bobo! — Demi riu e fez algumas cocegas arrancando dela altas gargalhadas. — Desse jeito vai acabar tendo algum pesadelo comigo.
— Nunca é um pesadelo com você.
— Continue assim e vou acabar me apaixonando por você. — Riu.
Demi sentou-se na cama e passou uma das mãos pelos cabelos. Seria possível mesmo que aquilo fosse verdade? O pensamento fez seu coração acelerar de uma forma que ela não sabia distinguir se era ou não boa. "Será que todas as coisas boas que Joe me fez foi apenas por causa dos sentimentos que ele nutria por mim?" O pensamento martelou em sua cabeça e ela negou no mesmo instante, ele não era esse tipo de pessoa! Joseph era um homem bom que fazia coisas boas com ou sem retribuições futuras, Demi tinha certeza de que com ela não seria diferente. Ela ficou sentada por alguns instantes e como não conseguiu se aquietar, esticou o braço para alcançar o celular no criado mudo e resolveu fazer uma ligação. O que mais ela poderia perder além do sono? Nada. Deitando-se e encarrando o teto do quarto, Demetria torcia para que Joe atendesse o telefone. Não importava o que acontecesse, verdade ou mentira, ela sempre acabaria voltando para ele.
— Eu estava sentindo que você ia me ligar. — A voz dele lhe causou alguns arrepios.
— Mesmo? E se eu não tivesse ligado? — Perguntou baixo, ela não queria acordar Zara.
— Eu provavelmente estaria te ligando nesse exato momento. — Alguém falou ao fundo e Joe respondeu tapando o telefone, então Demi não reconheceu a voz feminina.
— Está acompanhado?
— É a Joy, ela acabou de passar aqui para me desejar boa noite. — O que aquela sensação de alivio significava? Demi já estava começando a ficar temerosa pelo rumo que seus sentimentos estavam tomando. Por um breve momento ela imaginou, realmente imaginou como seria ela e Joseph... mas havia algo ali, algo que não deixava com que ela fosse longe demais com aquela ideia! — Demi? Ei, você está ai?
— Sim, eu só estava viajando. — Riu baixo.
— Você está bem?
— Cansada, mas minha cabeça está cheia demais para me deixar dormir e acho que precisava ouvir sua voz. — Joe ficou quieto por alguns instantes e Demi não deixou de se perguntar o que se passava na cabeça dele!
— Você quer conversar sobre isso? — Ele havia acabado de se deitar, ela ouviu o barulho do corpo dele contra o colchão e os travesseiros, então era uma visão familiar.
— Não, eu quero apenas ouvir você falar sobre qualquer coisa. — Demi sorriu quando o ouviu rir.
— E sobre o que eu falaria?
— Qual é, Joseph... tenho certeza de que tem muita história para contar.
— Nem todas devem ser, acredite em mim.
— Porque? — Aquele silêncio gritou tanta coisa que Demi sentiu a língua "coçar" para soltar uma pergunta para ele! Mas aquilo não era assunto para telefone e ela também precisava esfriar um pouco a cabeça depois de tudo o que aconteceu com Jesse.
— Nem todas são boas ou faz a gente se orgulhar de coisas que deveria ter feito e não fez.
— Entendo.
— Algo que aconteceu hoje e acho que posso contar é que Zara voltou a falar comigo. — Ele disse com certa animação. — Eu pedi desculpas e nós tivemos um papo bem sincero de um jeito que só ela sabe ser sincera! — Os dois riram e logo depois Joe suspirou. — A sensação de ter nossa "familia" unida novamente é muito boa. Espero que vocês se acertem o quanto antes! Tudo que eu mais quero é uma viagem em grupo, sabe? Fazer algo divertido, como nos velhos tempos e assim você vai ver como é legal estarmos todos juntos por ai vivendo novas aventuras.
— Eu fico muito feliz por vocês. — Ela sorriu. — É tudo que eu mais quero!
— Vai acontecer, eu tenho certeza. — Joe disse e realmente transmitou o quanto ele acreditava que aquilo ia acontecer.
— Sabe onde estou agora?
— Na sua casa, imagino.
— Não.
— Na casa do... — Antes que Joseph pronunciasse o nome, ela respondeu:
— No apartamento da Zara.
— VOCÊ ESTÁ COM A ZARA?
— O que posso dizer? Ela meio que me resgatou no meio da chuva e me trouxe para cá.
— O que você estava fazendo na chuva? — Joe perguntou preocupado.
— É algo sobre o qual eu não quero falar, não agora, mas o que importa é que somos amigas novamente. — Demi suspirou aliviada. — Parece que nossa familia está oficialmente unida de novo.
— Isso merece uma comemoração!
— Vai com calma. — Demi bocejou e sorriu consiga mesma percebendo a animação dele.
— Nós precisamos planejar um final de semana e ir acampar. É quase uma tradição! Todo ano nós vamos e dessa vez você vai.
— Joseph, o que eu acabei de dizer?
— O.k, desculpe. — Ele riu. — É que eu já sonhei tanto com isso que em alguns momentos quase não parece real, sabe?
— Sim, eu partilho do mesmo sentimento. — O silêncio instalou-se entre eles novamente. — Eu preciso ver você. O que acha de sairmos amanhã?
— O que você tem em mente?
— Qualquer coisa, desde que façamos algo juntos.
— Deixe-me pensar... — O celular de Demi vibrou e isso significava que alguém havia lhe mandado uma mensagem. — Demi, eu acho que já temos um programa perfeito.
— E qual seria?
— Niall vai tocar no pub amanhã e acho que seria legal que nós fossemos, não estaremos sozinhos, mas se isso for um problema...
— Não, não é um problema. — Demi apressou-se em responder. — Parece perfeito! Vai ser uma oportunidade perfeita para ouvi-lo tocar.
— Amanhã também é noite do karaoke, então vai ser bem divertido.
— Eu estou mesmo precisando de diversão.
— Você falando assim me faz acreditar que tem algo acontecendo e isso me preocupa, mas se não está pronta para falar... está tudo bem, o.k? Eu só quero que saiba que estou aqui e que juntos podemos lidar com qualquer coisa. — "Juntos" foi tão reconfortante a forma como aquelas palavras soaram ao seu ouvido. Demi fechou os olhos e o sono veio juntamente com a sensação de que ela não estava sozinha, Joseph estava ali e ela podia dormir em segurança. Ele era seu lugar seguro! — Demi? — Joe chamou depois de alguns instantes sem resposta e sentiu o coração acelerar! Será que ela estava bem? Antes de qualquer coisa ele ficou atento ao telefone e riu baixo consigo mesmo ao ouvir o ronco baixo dela, ela estava dormindo. — Boa noite, querida. Tenha bons sonhos! — Ele disse baixinho e bocejou logo depois, talvez estivesse na hora dele dormir também. — Amo você.
--
eu sempre vou ser grata por esse capítulo e em como me senti viva nesse exato momento ao editar e reler cada palavra escrita.
espero que tenham gostado!
eu volto logo ❤